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      Bienal reúne obras da Argentina ao Japão, passando pelo Brasil

        São 2800 obras e instalações que fazem parte de uma proposta ousada: deslocar o eixo tradicional das bienais à artistas sul-americanos ou que intervêm no sul do mundo, fugindo do tradicional circuito europeu e somando novas tecnologias. A estreia oficial em Buenos Aires será nesta sexta-feira (8).  

      Bienal reúne obras da Argentina ao Japão, passando pelo BrasilA Bienalsur estreia oficialmente em Buenos Aires nesta sexta.
      Redacción Clarín

      Buenos Aires, 07 de setembro de 2017

          

      Na capital argentina as obras estarão presentes em 29 espaços espalhados pela cidade.Na capital argentina as obras estarão presentes em 29 espaços espalhados pela cidade.

        

      Por Gabriela Grosskopf Antunes 

       

      Do sul da Argentina ao Japão, ao todo,100 exposições em 84 sedes, 32 cidades, de 16 países receberão as obras de 350 artistas em uma proposta que começa agora em setembro a vai até o fim do ano. A ideia, de acordo com a curadoria da Bienal, é percorrer 18.370 quilômetros (sendo Buenos Aires o quilômetro 0) em arte, criando uma cartografia cultural simbólica que expande e transcende as fronteiras do continente sul-americano. Argentina, Austrália, Benin, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, França, Guatemala, Japão, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela compõem a lista de 16 países que receberão as exposições.

        

      Recriando os eixos

        

      As obras pertencem a artistas como os brasileiros Vik Muniz, Cildo Meireles e Ernesto Neto, e argentinos como Guillermo Kuitca, Fabián Marcaccio, Graciela Sacco, Pablo Suárez, Daniel Ontiveros, Tomás Espina, entre outros artistas de projeção mundial e local.

       

      Recriar os eixos mundiais e a percepção da realidade. Este é o mote de muitas das obras que fazem parte da Bienalsur. São artistas que redesenham a realidade como mágicos modernos como o argentino Leandro Erlich que, em abril deste ano, surpreendeu os argentinos com a “desaparição” da ponta do Obelisco, um monumento que mais que um símbolo da capital argentina é um cartão postal nacional. Usando truques que alteram a percepção ótica, Erlich fez “desaparecer” a ponta do monumento deslocando-o ao Museu de Arte Latino-Americana, o Malba. O “truque” pegou os portenhos de surpresa numa manhã de abril.

        

      Erlich fez “desaparecer” a ponta do Obelisco deslocando-o ao Malba.Erlich fez “desaparecer” a ponta do Obelisco deslocando-o ao Malba.

       

      A “remoção” da ponta do Obelisco foi posteriormente revelada: um truque de manipulação da percepção ótica que nunca alterou efetivamente a arquitetura do monumento. Para a Bienalsur, Erlich promete voltar a surpreender com uma instalação musical e visual na cidade de Tigre (a 30kms da capital Buenos Aires) chamada “Corra para escutar”.

           

      Para os curadores da Bienal, enquanto as políticas migratórias e econômicas no mundo demarcam limitações e diferenças, a arte vem com objetivos conciliatórios e de integração.Para os curadores da Bienal, enquanto as políticas migratórias e econômicas no mundo demarcam limitações e diferenças, a arte vem com objetivos conciliatórios e de integração.

          

      O mesmo processo de alteração visual da realidade permeia a obra do francês Bertrand Ivanoff, que decidiu “repaginar” a fachada do centro cultural Palais Glace, no bairro de Recoleta, em Buenos Aires. “Eu estou lá todos os dias às vezes até as duas da manhã”, contou Ivanoff ao Clarín em Português sobre a transformação do edifício para a Bienalsur, hoje coberto de luzes que mudaram radicalmente a fachada do edifício. O edifício foi coberto com listras verticais e horizontais em laranja, azul e rosa. A obra ganhou o nome de “Setenta e três quarenta e nove”.

       

      “A ideia era criar um sistema visual do qual não se possa escapar e que confirme que o edifício é uma interface entre a história desta cidade e sua evolução; entre hipervelocidade e ausência de velocidade ", disse, reforçando o mote das obras que alteram a percepção visual. “Tudo é um ponto de vista sobre a realidade”, afirmou.

           

      O francês Bertrand Ivanoff repaginou a fachada do centro cultural Palais Glace.O francês Bertrand Ivanoff repaginou a fachada do centro cultural Palais Glace.

        

      Outra cartografia

       

      A Bienal de Arte Contemporânea da América do Sul (Bienalsur) espera reescrever a cartografia das artes diferentemente de como foram apresentadas historicamente, com sedes tradicionais, principalmente sediadas em cidade europeias e com fronteiras bem definidas.

       

      “Esta Bienal surge do Sul e se conecta com o mundo. Normalmente essas iniciativas surgiam no Norte e em cidades pontuais, normalmente europeias. Podemos dizer que nosso continente teve uma iniciativa que transcende nosso território ganhando dimensão global”, disse Marlise Ilhesca, assessora geral da Bienal. “ As Bienais costumavam repetir sempre um mesmo modelo. Estamos fazendo algo tão grande que foge do nosso controle”, contou.

       

      Por esta razão, explicam os organizadores, as mostras acontecem de maneira simultânea em diversas cidades do mundo. "A BIENALSUR é multipolar e faz de cada sede, de cada ponto, um centro uma relação de simultaneidade com os outros. Mas para quê outra Bienal, se todos elas repetem as mesmas regras de funcionamento? Assim, questionamos o que acontecia no sistema artístico contemporâneo e propomos modificar as regras pré-estabelecidas do jogo”, explica Diana Wechsler, diretora artística-académica da Bienal.

       

      Para os curadores da Bienal, enquanto as políticas migratórias e econômicas no mundo demarcam limitações e diferenças, a arte vem com objetivos conciliatórios e de integração.

       

      "A BIENALSUR é um projeto que visa modificar o mapa cultural mundial, ou seja, refazer os passaportes para restituir a arte e a cultura sul-americanas internacionalmente”, disse Aníbal Jozami, diretor geral da Bienal e reitor da UNTREF (Universidad Tres de Febrero), instituição por detrás da iniciativa.

       

      Uma espécie de Pokemon Go das artes

         

      Marlise Ilhesca: "as pessoas poderão encontrar virtualmente obras de arte escondidas nos lugares mais impensados das cidades".Marlise Ilhesca: "as pessoas poderão encontrar virtualmente obras de arte escondidas nos lugares mais impensados das cidades".

       

      Em busca de uma audiência jovem, e adepta às novas tecnologias, os idealizadores da Bienalsur investiram em uma empreitada virtual: um aplicativo para dispositivos móveis que insere as novas gerações no mundo das artes.

       

      Willitu é o nome do personagem virtual criado pelos idealizadores da Bienal e faz parte da app que percorrerá todo o continente sul em busca de obras de arte.

       

      “Por meio deste personagem, as pessoas poderão encontrar virtualmente obras de arte escondidas nos lugares mais impensados das cidades”, afirmou Marlise Ilhesca. “O objetivo é estimular o jovem a se interessar pela arte contemporânea”, diz sobre o aplicativo que lembra jogos que se transformaram em verdadeiras febres nos últimos anos, como o Pokemon Go.

       

      “Vamos criar situações que indicam desafios, como um jogo, com recompensas”, contou. “Mas a ideia é que não sejam prêmios materiais. Nós queremos que o público viva a experiencia artística”.

       

      “Um dos questionamentos hoje da arte contemporânea é que ela é tão hermética, tão difícil de entender que para que você desfrute dela você precisa ser quase um especialista”, disse Ilhesca sobre o impacto que a tecnologia gera sobre as novas gerações. “O que estamos tentando fazer é usar uma ferramenta tecnológica para aproximar o público das obras”, contou.

       

      “É a primeira vez que se faz algo assim nessa escala”, afirma ao explicar que os jovens poderão ter acesso às obras sem ter que ir a um museu e que a ideia não é afastá-los do celular e sim usar os dispositivos para aproximar os jovens da arte contemporânea. “O museu vai até a casa deles, quando a tecnologia é bem aplicada ela pode ser educativa", disse.

       

      Em Buenos Aires

       

      Na capital argentina as obras estarão presentes em 29 espaços espalhados pela cidade.

       

      Um dos destaques da mostra em Buenos Aires, está presente no Palácio Pereda (Arroyo 1130), residência do embaixador do Brasil em Buenos Aires. A exposição Trazas Simultáneas (Traços simultâneos) traz obras de artistas renomados internacionalmente sob a curadoria da professora da Universidade de Buenos Aires Cristina Rossi.

        

      A Bienal de Arte Contemporânea da América do Sul (Bienalsur) espera reescrever a cartografia das artes.A Bienal de Arte Contemporânea da América do Sul (Bienalsur) espera reescrever a cartografia das artes.

        

      Entre as obras presentes estão trabalhos de artistas como Ernesto Neto (argentino), Pablo Suárez (argentino), Voluspa Jarpa (chilena), ViK Muniz (brasileiro), Rosângela Rennó (brasileira), Cildo Meireles (brasileiro), José Bedia (cubano), Guillermo Kuitca (argentino), entre outros.

       

      “A mostra tem uma expressividade inigualável, tanto em termos de qualidade como de representatividade, reunindo artistas do mais alto nível de diferentes países da América Latina. Estamos muito satisfeitos por sediar esta exposição, no âmbito do BIENALSUR, e agradecidos aos colecionadores por cederem suas obras para apreciação coletiva ", afirmou o embaixador brasileiro em Buenos Aires, Sérgio Danese.

       

      Para a lista completa de mostras, artistas e instalações tanto em Buenos Aires, quanto no Brasil e no resto do mundo acesse o site da Bienal: http://bienalsur.org