Buenos Aires, 2 de agosto de 2017
“A Venezuela está cada vez mais violenta, cada vez pior”, disse Macri, após a polêmica eleição de domingo para a assembleia constituinte convocada por Nicolás Maduro, através de decreto.
Nesta terça-feira (1), após as detenções dos opositores Leopoldo López e Antonio Ledezma, que já cumpriam prisão domiciliar e foram levados para prisões militares, Macri voltou a chamar a Venezuela de “ditadura”.
E sem citar o nome de Cristina Kirchner disse que antes (no governo dela) a Venezuela era o único país com quem a Argentina se relacionava. Mas que agora é o contrário. A Venezuela é o único país com quem a Argentina não tem relação.
“O único país com o qual a Argentina tinha um diálogo intenso era a Venezuela. Hoje a Argentina tem um diálogo intenso e boas relações com o mundo inteiro, exceto com a Venezuela”, disse Macri.
A Venezuela acabou entrando em cheio na campanha eleitoral argentina deste ano. E o governo sugere que a prolongada crise venezuelana pode acabar lhe rendendo maior apoio nas urnas. Hoje, segundo pesquisas de opinião, o eleitorado está dividido, com provável empate técnico, na maior província do país, a de Buenos Aires.
Esta província representa cerca de 40% do eleitorado nacional e costuma retratar a vitória ou a derrota de um partido ou candidato.
Neste território eleitoral, a ex-presidente Cristina Kirchner, da novata Unidad Ciudadana (União Cidadã) poderia receber mais votos que o candidato de Macri, o ex-ministro da Educação, Esteban Bullrich, ao Senado. Se Cristina ganhar, poderia alimentar a expectativa de seu retorno à Presidência em 2019, apesar de as pesquisas apontarem que seu teto eleitoral seria em torno de 35% e com alto índice de rejeição nacional.
Como observou a analista política Mariel Fornoni, da consultoria Managment & Fit, a aliança governista, Cambiemos (Mudemos), é a única presente nas 24 províncias da Argentina. Mas se perder na província de Buenos Aires, deixará o gosto amargo da derrota, e principalmente se for para a principal opositora do macrismo, a ex-presidente Cristina Kirchner.
Cristina tem batido, diariamente, na tecla dos maus resultados da economia da era Macri na vida dos argentinos. Com uma campanha porta a porta, ela marca presença principalmente nas redes sociais. “A Argentina tem mais pobres agora e animais abandonados. E isto me faz lembrar crises que já vivemos”, disse na terça-feira (1).
Esta semana, porém surgiram dados positivos da economia.
Pelo menos em termos macroeconômicos. Os setores da indústria e da construção registraram forte crescimento em junho, segundo dados oficiais. A atividade indústria mostrou recuperação de 6,6% e a da construção 17,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, 2016.
Esta cifra da construção é a maior desde maio de 2010 e virou motor para outros setores como o consumo de asfalto (subiu 88,6%). A venda de automóveis em julho deste ano subiu 22% frente ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Associação de Concessionárias de Automóveis da República Argentina (ACARA).
O secretário da Indústria Martín Etchegoyen disse ao Clarín que onze dos doze setores monitorados pelo INDEC (IBGE argentino) cresceram, mostrando que a recuperação foi além do setor rural. Ele afirmou ainda que ajudou a “recuperação brasileira que permitiu incrementar as exportações” argentinas para o mercado brasileiro.
Mas o retrato da economia argentina ainda aparece desfocado para outros setores, como o da indústria têxtil que caiu 4% em junho e já acumula retrocesso de 14,6% no ano.
Outros setores como alimentos, bebidas e eletrodomésticos caíram acima de 3% no mesmo período.
No fim de semana, ao discursar para o setor agropecuário, na tradicional feira de Palermo, aqui em Buenos Aires, Macri citou medidas do seu governo que facilitaram o comércio internacional, como o fim do chamado ‘cepo’ (controle cambial que era aplicado no governo de Cristina) e o reconhecimento da inflação (antes falsificada). Macri lembrou de números oficiais, para dizer que a inflação está em queda – economistas apontam que o índice caiu à metade em um ano e meio mas ainda seria de cerca de 20% anual e poderia não alcançar a meta de 17% do Banco Central.
Macri não falou, porém, desta vez, sobre o aumento do dólar. Um dia antes, na sexta-feira (dia 28) tinha batido o recorde de 18 pesos. Nesta semana, a moeda americana recuou levemente. E Macri não repetiu a frase da semana passada sugerindo que ninguém aqui liga para o dólar. Liga e a história recente do país confirma. Mas esta semana foram tomadas medidas para aliviar a alta da moeda americana. Como o anúncio de ampliação do prazo para a compra da casa própria.
Os créditos hipotecários, tradicionalmente calculados em dóalres, são um dos pilares do governo Macri junto ao consumidor – que há anos não tinha acesso a eles.
Vencer a eleição do dia 13 de agosto – chamadas PASO, que são as primárias – poderá turbinar a campanha do governo para a eleição legislativa de outubro. Em outubro serão renovadas parcialmente as cadeiras do Senado e da Câmara dos Deputados. Mas como observou Fornoni, depois das PASO começará uma nova campanha.
A campanha do candidato do governo ao Senado, na disputa com Cristina, pela província, já começou atropelando setores da opinião pública ao comparar o aborto ao feminicídio. Ele recebeu uma enxurrada de críticas nas redes sociais, onde a hashtag #NiUnaMenos dominou por várias horas. #NiUnaMenos simboliza a campanha contra o feminicídio criada na Argentina e que hoje é realizada em vários países da América Latina.
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