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      Correr descalço ganha adeptos na Argentina

          Rafael Roa   O ‘barefoot running’ é a técnica de correr descalço ou com um calçado especial chamado minimalista. 


      Buenos Aires, 4 de dezembro e 2016


      Em 2009, o jornalista americano - e fã de running - Christopher McDougall publicou o livro “Nascidos para correr”.


      Nesse livro ele conta como, procurando uma maneira de correr sem sentir dor, ele encontrou a tribo dos tarahumaras, das Barracas do Cobre, no México. Eles correm centenas de quilômetros sem descanso nem dor, não conhecem o câncer, nem a diabetes, nem as brigas.


      O livro foi um sucesso de vendas, virou rapidamente um best-seller nos Estados Unidos e foi traduzido a vários idiomas, dentre eles, o espanhol.




      Os argumentos de McDougall para correr sem tênis são baseados em estudos das universidades de Harvard (EUA) e Newcastle (Austrália), entre outras.



      Essa novidade também trouxe à tona algumas histórias que deram ainda mais sustento à teoria do barefoot running. Uma delas conta que nos Jogos Olímpicos de Roma de 1960, o etíope Abebe Bikila surpreendeu o mundo quando ganhou a maratona correndo descalço.

      Ou a entrevista da CNN em 2007 com etíope várias vezes campeão dos 42 quilômetros, Haile Gebrselassie, onde ele contava: “Eu estava bem quando não usava tênis. Corria descalço. Foi difícil começar a usá-los. Correr de tênis é bom, mas no começo da minha carreira foi muito duro. 

      No nosso país, você vê as crianças tão bem sem tênis. É melhor não usar tênis do que usar uns que não servem para você.”


      Na Argentina essa espécie de “chamado da natureza” também foi ganhando adeptos. 

      Correndo na província de Corrientes, perto do Brasil, sem tënisCorrendo na província de Corrientes, perto do Brasil, sem tënis

      (Maratonista sem tênis na província argentina de Corrientes)



      E o mercado, aderindo à “onda verde”, desenvolveu e lançou os tênis minimalistas, sem cápsulas de ar nem nada de amortecimento nem drop. Ao natural. Os primeiros tênis para barefoot running.



      “É muito menos agressivo para o organismo e você usa a energia mais eficientemente do que correndo com tênis convencionais”, diz Luciano Meritano, formado em Educação Física e capitão do Rosario Merrell Team, o primeiro grupo de corredores de barefoot running da Argentina.

      “Essa é uma técnica ancestral esquecida que necessita de um período de adaptação para ser usada corretamente. Existe um método pontual que foi desenvolvido para a adaptação e nós nos especializamos nisso”, diz ele.


      “Nós usamos tênis praticamente desde que nascemos, então muitos músculos do pé e a maior parte do arco estão totalmente debilitados. Por isso, como nós estamos feitos para correr descalços, é necessário um período de adaptação que depende de cada pessoa, da idade, da técnica de pisada, do peso. Esse período pode durar de três a oito meses de preparação”, diz Meritano.

      “É para mudar a maneira de correr. Não é a mesma coisa. A pisada muda e, quando a pisada muda, toda a técnica muda. Com os tênis convencionais o primeiro apoio é feito com o joelho quase estendido e apoiando uma parte do calcanhar.

      clarin.com Luis Pérezclarin.com Luis Pérez

      (Argentino Luis Pérez corre de alpargata na província do Chaco)



      No barefoot running, apoia-se a parte anterior do pie, que seria o começo do metatarso, por isso o amortecimento muda. Mecanicamente é muito mais econômico, o impacto é menor.”


      “A adaptação óssea é a mais longa de todas no organismo e, além disso, o cérebro tem que criar uma técnica nova, a adaptação do impacto do metatarso tem que ser progressiva porque essa parte do pé vai ter um apoio, uma descarga e uma pressão que não tinha antes, porque a maior descarga era no calcanhar e agora é no metatarso”, diz Meritano.


      Guillermo José Mc Loughlin tem 43 anos e é de Margarita Belén, na província do Chaco. Há três anos, com o objetivo de tornar sua vida mais saudável, ele começou a fazer running e participou de várias maratonas.

      No início, usou tênis convencionais, mas pouco tempo depois passou para o grupo dos barefoot e até criou o grupo “Corredores Minimalistas y Descalcistas de Argentina” no Facebook.



      Fã dos trail, as corridas que são realizadas por lugares não convencionais, Guillermo usa “o calçado minimalista argentino tradicional: as alpargatas.” “Com as alpargatas eu tenho me sentido muito confortável. Corri 72 quilômetros sem inconvenientes”, diz ele.


      “Sou minimalista, não “descalcista”, porque no Chaco tem muito espinho. Mas onde dá eu corro descalço.”


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      Rafael Roa
      Rafael Roa

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